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Valter Mattos

Valter Mattos
Ouvindo...

sábado, 30 de março de 2013

Ninguém vai ao Pai, senão por Mim


“Ninguém vai ao Pai, senão por Mim”
                                                           (Jo – 14.6)



É, não tem jeito; tenho que aceitar, me conformar e ficar quieto perante o meu leve ciúme em relação a minha esposa e minha filha ficarem babando, mais uma vez, pelo desempenho deste rapaz chamado Wagner Moura – e na verdade não tem mais sentido ficar falando este lugar comum de que é um novo talento da dramaturgia brasileira; seu talento já é fato consumado.
Desde pelo menos a primeira Tropa de Elite, que a mulherada fica toda derretida com seu uniforme de blusão preto por dentro das calças e dobrado nas mangas compridas até a altura do cotovelo. (Marmanjões, esta é a dica... Apesar de que tem homem, mesmo sendo hetero, que se veste pra outro homem; coloca, por exemplo, aquela camisa polo “maneira” com uma listra grossa atravessando o peito para os amigos verem que ele tem este tipo de camisa).
Mas deixa de ficar enrolando. Estou aqui para falar deste último filme em que Wagner Moura é o protagonista, “A Busca”, dirigido por Luciano Moura. Filme com um elenco enxuto, traz um pai, o médico Theo Gadelha de 35 anos, estrelado exatamente por Moura, desesperado a procura de seu filho, Pedro, que fizera 15 anos recentemente. O garoto, pra resumir, cansado dos problemas emocionais causados pelo desiquilíbrio do pai, foge de casa montado num cavalo (isso mesmo, um menino urbano a cavalo e fugindo) e Theo sai pelas estradas de São Paulo indo até ao Interior do Espirito Santo. Na verdade, este pai perdeu seu filho em dois sentidos; emocional, primeiro, e depois fisicamente; portanto, tanto a fuga quanto a busca acabam sendo, cada uma delas, em dose dupla.
O personagem de Wagner Moura tem com ele guardado uma mágoa muito forte da ausência de seu pai, vivido por Lima Duarte. Para compensar, e não cometer o mesmo erro paterno, Theo tenta ser um pai muito presente; e ai exagera, ao ponto de sufocar, com esta presença absoluta e quase “despótica”, a autonomia de um adolescente que, como todos os outros, está em busca de experimentar os erros e acertos que esta fase da vida pode proporcionar. Seu afã por acertar enquanto pai, e também como esposo, fez com que perdesse a família; pois não vivia mais com sua mulher, Branca.
Nesta sua busca frenética pelas estradas de três estados, Theo vai seguindo as pistas que Pedro deixa pelo caminho, como as migalhas de pão da história de João e Maria; porém, para a sorte de Theo, não havia pombos a comer tais migalhas. É seguindo os rastros do filho que Theo percebe que não o conhecia de fato, e fica encantado com o que descobre. Montando o quebra-cabeça da estratégia para a busca do filho, Théo percebe que este estava indo ao encontro do avô paterno, que não conhecia; logo ele, seu pai, que no passado o negligenciara. Theo percebe também que precisava encontrar e perdoar o pai primeiro para encontrar e ser aceito por seu filho; e é isso que ele faz.
Basicamente é esta a história. Não sou um crítico de cinema e nem faço parte da produção do filme na procura de promovê-lo; contudo, não poderia deixar de registrar o quanto fiquei comovido com este filme, lindo, e, igualmente, com a atuação de Wagner Moura. O filme tem um roteiro ao mesmo tempo simples e profundo; muito bem encaixado na fala dos personagens, que por sinal são muito bem montados, pois, com poucas falas e muita manifestação de sentimentos, percebemos toda a intensidade do que eles são ou representam na trama – pelo menos os mais importantes. Por exemplo, Wagner Moura, na primeira tomada do filme, tem uma explosão de ira contra seu filho, onde as falas são mais guturais do que articuladas, que dá para compreendermos não só toda a complexidade psicológica do personagem, como também a contextura sentimental vivida pela família.
O filme me fez viajar em meus próprios sentimentos enquanto pai; mas também me fez interpretar coisas paralelas a seu enredo. Vislumbrei, pretensiosamente, uma fala oculta no texto do filme: só se chega ao pai pelo filho. Parece-me – obviamente segundo uma interpretação minha – que a história é uma metáfora da relação judaico-cristã entre o Deus criador e o seu filho enviado a nós, Jesus Cristo; e são, os dois, o mesmo ser – Deus que se fez filho para salvar nossos pecados. Numa relação não linear e sim em círculo, uma tríade se forma com três vértices: filho, pai e avô; onde o conhecimento de cada um dos vértices, pelos seus membros, depende de um conhecimento em conjunto.
Não sou especialista em cinema, mas sou daqueles cinéfilos que até ver filmes ruins (li esta frase em um romance ou conto de Rubens Fonseca, que não me lembro agora qual), quanto mais um que é excelente; portanto, gosto de filmes e sempre ouvir dizer que um bom filme é aquele que bota agente para pensar, e “A Busca” me provocou isso. Um filme não pretensioso que em certa medida espelha, talvez, uma determinada tendência atual do cinema nacional de produzir bons filmes sem a necessidade, imaginada por alguns intelectuais, de serem obtusos para a maioria do público médio, como eu. Os chamados filmes “cabeças” têm o seu papel a cumprir; mas existem aquelas horas que queremos ir ao cinema e ver um bom “filme pipoca”, feito inteligentemente para o lazer.

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Muito Obrigado pela consideração, Valter Mattos.