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Valter Mattos

Valter Mattos
Ouvindo...

sexta-feira, 26 de abril de 2013

As Minhas Musas, Cantoras Interpretes


Sei que muita gente vai discordar, pois, como em todas as escolhas, muitas ficaram de fora (inclusive, gosto de muitas que ficaram de fora); mas minhas interpretes norte-americanas preferidas são Narah Jones, Billie Holiday, Madeleine Peyroux, Diana Krall (eu sei, ela é canadense; mas vai lá, da língua inglesa – sem contar que é linda) e a novata Melody Gardot (que o Brasileiro Heitor TP – guitarrista que adoro – a produziu em alguns trabalhos mais recentes). Talvez goste um pouquinho menos das que encabeça e encerra esta pequeno rol.
Estou escrevendo esta “notinha” porque li um artigo hoje (26/04/13) do Arthur Dapieve no Segundo Caderno de O Globo, “Resgaste na Pista”, em que ele faz uma comparação, muito interessante, entre duas duplas de cantoras, de um lado, Marlene x Emilinha e, de outro, Peyroux x Krall. O argumento dele é que, tal como na famosa disputa entre os fãs, na Era de Ouro do Rádio no Brasil, entre Marlene e Emilinha Borba, os fãs de Madá e Krall hoje discutem e disputam também qual seria a melhor – certamente em contendas não tão acirradas como foram as nossas no passado.
Dapieve logo de cara revela preferir Madeleine (já eu gosto muito das duas). Ele diz que escreveu o artigo porque, de quando em vez, tem uma discussão com um amigo que é fã de Krall (e este teria falado, depreciativamente, que Peuroux “mia” que nem uma gata; e acrescento, uma linda Gata). Não me lembro direito quando conheci Kroll (quem sabe, pois igualmente gosto muito de Rock, por referência a Elvis Costello, já que este sortudo é seu esposo); mas com certeza apaixonei-me imediatamente ao ouvi-la (como não gostar, por exemplo, de sua interpretação, cantada e tocada no piano por ela, de Just the Way You Are, de Billy Joel? Cuidado, há uma composição de título homônimo, do havaiano Bruno Mars, que, desculpem-me seus fãs, desaconselho). Todavia, recordo-me razoavelmente de como tive contato com Madeleine. Acho que têm mais ou menos uns seis anos que ouvi, à noite, o Nelson Motta comentar na rádio sobre uma cantora de Jazz, com nome afrancesado e com um timbre e jeito de cantar semelhante ao de Billy Holiday, que ele dizia ser muito interessante. Colocou uma música para tocar e aí adorei.
Confesso que foi exatamente o fato de Madeleine lembrar-me muito Billy Holiday que me tornei seu fã. Sei que aquela não gosta muito de ser lembrada como semelhante a esta – o que é uma pena, adoraria ver uma reprodução de Peuroux dos maiores hits da Billy. Agora vou confessar outra coisa: de todas as que listei aqui como as minhas preferidas, a que mais gosto é Billy Holiday. Em composições como, Me, myself and I (existe outra composição de título homônimo gravado por Beyoncé, que, desculpe-me mais uma vez a pretensão, também não aconselho), Summertime (também imortalizada por Janis Joplin) e I’M a Foll to Want You, dentre outras, ela demonstra toda a sua emoção à flor da pele. Esta é a sua maior marca: a emoção de uma vida densa, vivida cheia de sofrimentos. E aí farei uma comparação que não sei se gostarão: quando ouço Billy Holiday sou tomado de uma emoção deveras igual àquela que sinto ao também ouvir Elis Regina.
É isso mesmo, as duas, cada uma a seu jeito, tiveram vidas conturbadas, polêmicas e cheias de dor. Não quero dizer com isso que todas as cantoras – principalmente as interpretes – precisem, como num estágio, passar por uma temporada de consternação, mágoas e sofrimento; mas hão de convir, que o que passam de sentimento em suas interpretações só é possível porque viveram estes sentimentos. Então, para mim, Elis Regina e Billy Holiday são as maiores interpretes de canções, de todo o mundo e de todo os tempos, que já tive a oportunidade de ouvir; pois são as que mais conseguem emocionar-me. Emoção, este sentimento, que quando suas notas melancolicamente entram em meus ouvidos, perturba-me, causa-me ora consternação ora ternura; ou seja, ainda que por um breve momento, modificam meu estado de espirito de forma intensa, em um misto de tristeza e, logo depois, de alegria, já que fico feliz por ter me emocionado; e penso: como é bom ouvir uma bela canção. Obrigado minhas musas.

sábado, 20 de abril de 2013

Tal como a Vida, Escrever pode ser muito Arriscado


Tal como a vida, um texto nunca está pronto. Estamos sempre a reescrevê-lo toda a vez que nos deparamos com ele; nunca está pronto. Se vivêssemos para sempre, infinitas seriam as reedições das coisas que escrevemos. A esperança desses textos, que sofrem em nossas mãos, com esta pretensão inútil de sermos perfeitos, é a nossa morte, inexorável e infalível. Contudo, assim como um filho (sei que isso é um clichê de quem se afeta por uma vaidade dissimulada), quando morremos, ele fica por sua conta e risco, e sua sobrevivência, agora, só depende dele, não estaremos aqui para aconselhá-lo, mudá-lo etc. Sua história também não será infinita; sua validade, importância e atualidade serão os critérios de sobrevida. É como Guimarães Rosa disse: viver é muito arriscado; e incluo, inclusive para um texto que ganha vida própria com a morte de seu autor.
Quando escrevemos em um blog, creio, esta incompletude é potencializada pela possibilidade de estarmos sempre entrando, quando on-line ou não, nas configurações e reeditando e salvando as mudanças na redação do mesmo documento; mas será que é ainda o mesmo texto? Esta questão me aflige. Trata-se de uma desvantagem; ao contrário do que se possa pensar, pois com as possibilidades desta ferramenta de mídia eletrônica, nunca me livrarei da vontade de aperfeiçoar o que redijo. Quando escrevo para este blog quase sempre é alguma coisa que leio, que escuto, que lembro, que me suscita alguma ideia e que não consigo deixar de colocar pra fora, e ai sento diante desta tela, que agora me contempla, e saio escrevendo como quem, digamos, “vomita” (exagerei, né?...) sobre alguma coisa, no caso a tela do computador. Na ansiedade de tornar pública a ideia, posto-a rapidamente; e depois vem o arrependimento. Sem mesmo precisar de se lembrar do conselho de Drummond, de que escrever é contar palavras, começo a polir, lustrar e retocar daqui e dali, até que me canso e deixo pra lá, com aquela sensação de que perdi um tempão, de que ainda não está bom e que, na verdade, não sei escrever direito.
Tenho uma hipótese de que escrever é um exercício, que precisa, exercitando-se, ser muito praticado na busca de perfeição. Mas comigo, nunca consigo achar que estou pronto – deve ser isto mesmo, nunca se está pronto. Fico pensando como deve ser escrever, por exemplo, um romance... É claro que o texto final é, exaustivamente, revisto. Mas acho, igualmente, que o problema de escrevê-lo rapidamente e torná-lo público também rapidamente não existe; no entanto, o problema é outro: saber escrevê-lo. Acho que por enquanto não preciso me preocupar com isso...

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Morre Margaret Thatcher. Já vai tarde.


Morreu hoje pela manhã aquela que ficou conhecida como “a Dama de Ferro”, Margaret Hilda Thatcher. Primeira ministra britânica de 1979 a 1990, Thatcher, em seu país, foi responsável por uma política de desregulamentação da economia e, dentre outras coisas, também por uma das mais virulentas flexibilizações das regras trabalhistas (os mineiros ingleses que o digam) que pôs o trabalhador britânico refém, tal como um “operário pré-ludista”, das regras de mercado; regras estas que todos sabem são controladas pela burguesia.
Thatcher na Inglaterra, Ronald Reagan nos EUA e o General Augusto Pinochet no Chile (inclusive este antes dos outros dois), deram início prático, na década de 80 (“a década perdida”), àquilo que ficou conhecido como neoliberalismo (no caso da América Latina, por exemplo, ver o que José Luiz Fiori diz sobre “O Consenso de Washington”). Pensadores da Economia Política de direita, como o norte-americano Milton Friedman, da escola monetarista de Chicago, e o austríaco Friedrich Hayek (considerado o pai do neoliberalismo), de “O Caminho da Servidão”, são recuperados em nome da eficiência dos governos contra a ineficiência dos Estados e quase meio século de conquistas, relacionadas ao “bem estar social”, são jogadas no lixo e o mundo, no início deste milênio, mergulha em uma grande crise.
Pessoas como Thatcher fazem parte da História como aquelas que contribuem para que o mundo continue sendo um mundo de excluídos. E agora vai começar um monte de gente a nos “encher o saco” com elogios sobre seu lado forte como governante etc. Prefiro dizer que sou radicalmente contra as suas ideias, que estou do outro lado e que penso que a construção de um mundo melhor é possível; mas este mundo melhor só será viável de fato, se políticas contrárias às aplicadas por Thatcher passarem a dominar o cenário mundial.

domingo, 7 de abril de 2013

A sua Opinião, doe a quem doer


O pior de tudo para mim é que um Paulo Francis faz muita falta hoje no jornalismo brasileiro. Toda vez que leio ou ouço o Paulo Francis dar uma opinião sobre alguma coisa, que muitas das vezes não era tão polêmica assim e ele a transformava em uma discussão de extrema controvérsia, tenho um sentimento deveras contraditório, em que um dos lados é muito radical: há horas que o acho genial e outras que quero matá-lo (matá-lo mais uma vez, pois fico sentindo vontade que ele venha do túmulo para matá-lo de novo).
Tudo bem, um homem muito culto e de uma inteligência impar, etc. etc. Contudo, não é deste lugar comum que quero falar. Escroto com seu preconceito explícito, dentre muitos outros, contra os nordestinos, por exemplo, o Paulo Francis levantou, em relação a ele, ódios que considero justificados. Mas continuo insistindo, não é isso que quero falar sobre este jornalista de opinião (que Caetano – que é outro dado a muitas polêmicas – uma vez dissera ser uma “bicha amarga”, por não concordar com uma crítica que Francis fez sobre uma entrevista sua a Mick Jagger); quero lembrá-lo, mais do que isso, enaltecê-lo mesmo, por ter tido sempre, ou quase sempre, uma opinião não só contrária como muito ácida contra aquilo que considerava principalmente óbvio.
Sejamos um Paulo Francis em seu espírito de contestação, de ser do contra. Se de fato resolvermos ser um Paulo Francis, aproveitemos somente sua veia polêmica. De minha parte, se esta for a decisão, rejeitarei o Francis republicano, de direita e elitista. Claro, muitos dirão (os detratores e admiradores) que rejeitar este Francis é, na verdade, rejeitá-lo como um todo; é verdade... Mas é isso que quero fazer, pegar de Paulo Francis este espírito que o marcou: a crítica acre e veemente contra o que todos dizem que é normal.
Estou neste meio de comunicação virtual para colocar pra fora aquilo que me incomoda. Irritam-me muito aquelas coisas proferidas como um pensamento, incontestavelmente, único, e que considero como sendo óbvio que tenha outra possibilidade de opinião. O fato de muita gente boa não perceber estas possibilidades, e comprar tudo já pronto e embrulhado para viagem, escarnece-me. Desculpem-me a agressividade e se soa pretensioso, mas acho isso uma idiotice, e é por isso que estou tentando recuperar a imagem de um intelectual que defendeu, diametralmente, o oposto do que acredito como teses políticas: Franz Paul Trannin da Matta Heilborn, nascido no Rio de Janeiro (1930-1997), de juventude trotskista e pós-juventude liberal, nova-iorquino postiço e que pertencia a uma espécie de jornalista hoje em extinção, os que dizem sua opinião, doe a quem doer. 

quarta-feira, 3 de abril de 2013

A Isca e o Anzol


para este ano de eleição...


Tudo bem, não vou discordar; é claro que José Dirceu foi condenado, dentre outas coisas, por sua arrogância, por comandar um esquema de compra de apoio de parlamentares corruptos, talvez, quem sabe, por ser de esquerda etc.; contudo, o que ele disse nos últimos dias do mês de Fevereiro (deste ano) a militantes catarinenses de seu partido, pode, sim, ter alguma coerência. Ele só disse o seguinte (mais ou menos assim – adaptando a sua fala): gente, retroagimos em termos de direitos políticos, pois “a Lei da Ficha Limpa” está condenando quem ainda não foi definitivamente condenado, segundo, exatamente, o que diz a nossa Magna Carta, aquela que, em qualquer país verdadeiramente democrático, não pode ser contrariada por nenhuma outra lei que, obviamente, está abaixo dela; ou seja, esta lei, a da “Ficha Limpa”, está se antecipando à própria Justiça, de onde ela é tributária, “condenando” previamente quem ainda não foi julgado em última instância – e acrescento: e se uma pessoa que esteja pleiteando o direito a uma candidatura eleitoral, e contra a qual exista um processo em tramite na Justiça, for impedida em sua intenção política pelos critérios da “Ficha Limpa” e mais tarde a Justiça, em última instância, entender, por novas provas documentais acrescentada ao processo, por exemplo, que essa pessoa é inocente, o que fazer?
Ele disse mais – que igualmente considero no mínimo razoável. Nas últimas eleições, dentre os partidos de maior peso, os percentuais de políticos impedidos pela Lei foram de 37% para o PSDB, 34 para o PMDB, 17 para o DEM (partido em extinção) e 4 para o PT. Desses percentuais, muitos estão relacionados, enquanto “crime”, à Lei de Responsabilidade Fiscal. Quando os administradores públicos, de qualquer lugar do país ou de qualquer instância do poder, gastam mais do que fora previamente estabelecido na forma da lei, pode ser detectado pela fiscalização dos Tribunais de Conta como que infringindo a LRF. Nestes casos, o não respeito a este código de conduta nem sempre está relacionada, necessariamente, à corrupção, por exemplo; podendo ser uma resposta imediata a contingências que tenham surgido, etc.
José Dirceu quis dizer que na intenção, moral, de se “limpar” a política, podemos estar cometendo injustiças irreparáveis, ainda que no curto prazo, o que concordo (experiências passadas, Jânio Quadros, Collor etc., nos dão conta disso). Não sou insano ao ponto de ser contra esta lei moralizadora; no entanto, ela não está acima do bem ou do mal, e por isso imune, simplesmente, de ser discutida por quem quer que seja; haja vista ser exatamente no debate (e aí os contrários precisam, pelo menos, se ouvirem) que as instituições democráticas são aperfeiçoadas – ou meramente vale a lei pela própria lei? Dito de outra maneira: um código normativo legal, criado pelo homem, é alçado à condição de ente, ser vivo criado pela natureza, e contra ele não podemos ir sob pena de estarmos atentando contra a vida? Que exagero; a lei tem que servir aos homens e não o contrário.
O mais interessante, curioso mesmo, foi a matéria publicada sobre o assunto no jornal O Globo em 23 de Fevereiro. Relata o ocorrido; no entanto, sem perguntar ou pedir ao próprio Dirceu para que ele explicasse melhor seu ponto de vista. O artigo parte de princípios preestabelecidos, dos “bons costumes” políticos, de que o pensamento de José Dirceu, em síntese, está totalmente comprometido (e quem não está?) para pronunciar ou teorizar qualquer coisa que seja no âmbito da política (que é uma coisa pública – e dizer isso é um pleonasmo). A parcialidade do jornal – que a princípio deveria ser isento (mas concordo que ninguém o seja, o problema é quando não se assume) – é no mínimo patente, gritante e por isso salta aos olhos. Todos que são ouvidos na reportagem da matéria, creio que intencionalmente, ou são contra o Dirceu, ou contra sua ideia ou defendem, intransigentemente, a Lei; pasmem: nenhuma voz dissonante (!). Pelo amor de deus [sei que os cristãos pedirão para grafar com inicial maiúscula; mas isso é uma outra história], a lógica nos pede que sejamos racionais e discutamos as coisas, sobretudo se estamos tratando de política; do contrário, é totalitarismo transvestido de “liberdade de imprensa” (outra coisa sagrada, com valor em si mesma, que não podemos discutir).
Ao contrário do que possa parecer, não sou fã do Dirceu e nunca fui e acho que ele tem que pagar pelo que fez (mas com uma ressalva: não podemos enquadrar seu delito na ceara dos crimes comuns; há de haver aí, da mesma maneira, uma discussão, pois se trata de questão política – se quiserem, gostaria de debater isso também mais tarde). Mas me incomoda muito perceber que as pessoas repetem as coisas – tal como os papagaios – sem de fato refletir a fundo sobre o que estão reproduzindo. São pessoas que se consideram críticas; mas que na verdade não o são. “Criticar” (palavra de origem grega) não é simplesmente falar mal acreditando que só isso é suficiente; o sentido “Aureliano” deste vocábulo tem como explicação inicial a concepção de análise sobre o que se quer, por algum motivo, censurar ou comentar. Mas tem muita gente boa acrítica que se julga crítica, no sentindo amplo deste conceito. E no caso específico do que estamos falando, o jornal O Globo é um dos maiores “vendedores de peixes” deste país (assim como o Estadão e outros); sua reputação ou fama faz com que as pessoas “comprem” o seu “peixe” sem se perguntarem sequer a procedência; quando uma simples “cheirada” já bastaria.