O pior de tudo para mim é que um Paulo Francis faz muita falta hoje no
jornalismo brasileiro. Toda vez que leio ou ouço o Paulo Francis dar uma opinião
sobre alguma coisa, que muitas das vezes não era tão polêmica assim e ele a transformava
em uma discussão de extrema controvérsia, tenho um sentimento deveras contraditório,
em que um dos lados é muito
radical: há horas que o acho genial e outras que quero matá-lo (matá-lo mais
uma vez, pois fico sentindo vontade que ele venha do túmulo para matá-lo de novo).
Tudo bem, um homem muito culto e de uma inteligência impar, etc. etc.
Contudo, não é deste lugar comum que quero falar. Escroto com seu preconceito
explícito, dentre muitos outros, contra os nordestinos, por exemplo, o Paulo
Francis levantou, em relação a ele, ódios que considero justificados. Mas
continuo insistindo, não é isso que quero falar sobre este jornalista de
opinião (que Caetano – que é outro dado a muitas polêmicas – uma vez dissera
ser uma “bicha amarga”, por não concordar com uma crítica que Francis fez sobre
uma entrevista sua a Mick Jagger); quero lembrá-lo, mais do que isso, enaltecê-lo
mesmo, por ter tido sempre, ou quase sempre, uma opinião não só contrária como muito ácida contra aquilo que considerava principalmente
óbvio.
Sejamos um Paulo Francis em seu espírito de contestação, de ser do
contra. Se de fato resolvermos ser um Paulo Francis, aproveitemos somente sua
veia polêmica. De minha parte, se esta for a decisão, rejeitarei o Francis republicano,
de direita e elitista. Claro, muitos dirão (os detratores e admiradores) que
rejeitar este Francis é, na verdade, rejeitá-lo como um todo; é verdade... Mas
é isso que quero fazer, pegar de Paulo Francis este espírito que o marcou: a
crítica acre e veemente contra o que todos dizem que é normal.
Estou neste meio de comunicação virtual para
colocar pra fora aquilo que me incomoda. Irritam-me muito aquelas coisas
proferidas como um pensamento, incontestavelmente, único, e que considero como
sendo óbvio que tenha outra possibilidade de opinião. O fato de muita gente boa
não perceber estas possibilidades, e comprar tudo já pronto e embrulhado para viagem,
escarnece-me. Desculpem-me a agressividade e se soa pretensioso, mas acho isso
uma idiotice, e é por isso que estou tentando recuperar a imagem de um intelectual
que defendeu, diametralmente, o oposto do que acredito como teses políticas: Franz Paul Trannin da Matta Heilborn, nascido no Rio
de Janeiro (1930-1997), de juventude trotskista e pós-juventude liberal, nova-iorquino
postiço e que pertencia a uma espécie de jornalista hoje em extinção, os que
dizem sua opinião, doe a quem doer.
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Muito Obrigado pela consideração, Valter Mattos.