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Valter Mattos

Valter Mattos
Ouvindo...

domingo, 7 de abril de 2013

A sua Opinião, doe a quem doer


O pior de tudo para mim é que um Paulo Francis faz muita falta hoje no jornalismo brasileiro. Toda vez que leio ou ouço o Paulo Francis dar uma opinião sobre alguma coisa, que muitas das vezes não era tão polêmica assim e ele a transformava em uma discussão de extrema controvérsia, tenho um sentimento deveras contraditório, em que um dos lados é muito radical: há horas que o acho genial e outras que quero matá-lo (matá-lo mais uma vez, pois fico sentindo vontade que ele venha do túmulo para matá-lo de novo).
Tudo bem, um homem muito culto e de uma inteligência impar, etc. etc. Contudo, não é deste lugar comum que quero falar. Escroto com seu preconceito explícito, dentre muitos outros, contra os nordestinos, por exemplo, o Paulo Francis levantou, em relação a ele, ódios que considero justificados. Mas continuo insistindo, não é isso que quero falar sobre este jornalista de opinião (que Caetano – que é outro dado a muitas polêmicas – uma vez dissera ser uma “bicha amarga”, por não concordar com uma crítica que Francis fez sobre uma entrevista sua a Mick Jagger); quero lembrá-lo, mais do que isso, enaltecê-lo mesmo, por ter tido sempre, ou quase sempre, uma opinião não só contrária como muito ácida contra aquilo que considerava principalmente óbvio.
Sejamos um Paulo Francis em seu espírito de contestação, de ser do contra. Se de fato resolvermos ser um Paulo Francis, aproveitemos somente sua veia polêmica. De minha parte, se esta for a decisão, rejeitarei o Francis republicano, de direita e elitista. Claro, muitos dirão (os detratores e admiradores) que rejeitar este Francis é, na verdade, rejeitá-lo como um todo; é verdade... Mas é isso que quero fazer, pegar de Paulo Francis este espírito que o marcou: a crítica acre e veemente contra o que todos dizem que é normal.
Estou neste meio de comunicação virtual para colocar pra fora aquilo que me incomoda. Irritam-me muito aquelas coisas proferidas como um pensamento, incontestavelmente, único, e que considero como sendo óbvio que tenha outra possibilidade de opinião. O fato de muita gente boa não perceber estas possibilidades, e comprar tudo já pronto e embrulhado para viagem, escarnece-me. Desculpem-me a agressividade e se soa pretensioso, mas acho isso uma idiotice, e é por isso que estou tentando recuperar a imagem de um intelectual que defendeu, diametralmente, o oposto do que acredito como teses políticas: Franz Paul Trannin da Matta Heilborn, nascido no Rio de Janeiro (1930-1997), de juventude trotskista e pós-juventude liberal, nova-iorquino postiço e que pertencia a uma espécie de jornalista hoje em extinção, os que dizem sua opinião, doe a quem doer. 

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Muito Obrigado pela consideração, Valter Mattos.