Tal como a vida, um texto nunca está pronto. Estamos sempre a
reescrevê-lo toda a vez que nos deparamos com ele; nunca está pronto. Se
vivêssemos para sempre, infinitas seriam as reedições das coisas que
escrevemos. A esperança desses textos, que sofrem em nossas mãos, com esta
pretensão inútil de sermos perfeitos, é a nossa morte, inexorável e infalível.
Contudo, assim como um filho (sei que isso é um clichê de quem se afeta por uma
vaidade dissimulada), quando morremos, ele fica por sua conta e risco, e sua sobrevivência,
agora, só depende dele, não estaremos aqui para aconselhá-lo, mudá-lo etc. Sua
história também não será infinita; sua validade, importância e atualidade serão
os critérios de sobrevida. É como Guimarães Rosa disse: viver é muito
arriscado; e incluo, inclusive para um texto que ganha vida própria com a morte
de seu autor.
Quando escrevemos em um blog, creio, esta incompletude é potencializada
pela possibilidade de estarmos sempre entrando, quando on-line ou não, nas
configurações e reeditando e salvando as mudanças na redação do mesmo
documento; mas será que é ainda o mesmo texto? Esta questão me aflige. Trata-se
de uma desvantagem; ao contrário do que se possa pensar, pois com as
possibilidades desta ferramenta de mídia eletrônica, nunca me livrarei da
vontade de aperfeiçoar o que redijo. Quando escrevo para este blog quase sempre
é alguma coisa que leio, que escuto, que lembro, que me suscita alguma ideia e
que não consigo deixar de colocar pra fora, e ai sento diante desta tela, que
agora me contempla, e saio escrevendo como quem, digamos, “vomita” (exagerei, né?...)
sobre alguma coisa, no caso a tela do computador. Na ansiedade de tornar
pública a ideia, posto-a rapidamente; e depois vem o arrependimento. Sem mesmo
precisar de se lembrar do conselho de Drummond, de que escrever é contar
palavras, começo a polir, lustrar e retocar daqui e dali, até que me canso e
deixo pra lá, com aquela sensação de que perdi um tempão, de que ainda não está
bom e que, na verdade, não sei escrever direito.
Tenho uma hipótese de que escrever é um
exercício, que precisa, exercitando-se, ser muito praticado na busca de
perfeição. Mas comigo, nunca consigo achar que estou pronto – deve ser isto
mesmo, nunca se está pronto. Fico pensando como deve ser escrever, por exemplo,
um romance... É claro que o texto final é, exaustivamente, revisto. Mas acho,
igualmente, que o problema de escrevê-lo rapidamente e torná-lo público também
rapidamente não existe; no entanto, o problema é outro: saber escrevê-lo. Acho
que por enquanto não preciso me preocupar com isso...
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Muito Obrigado pela consideração, Valter Mattos.